Mata da Poty em Maria farinha, Paulista-PE corre o risco de desaparecer conforme plano anunciado pelo grupo Votorantim e Prefeitura da cidade cujo interesse é de transformar o local em um bairro residencial de classe A e B para mais de 100 mil pessoas.

Ocupando uma área com mais de 2 mil Hectares, a mata da Poty, cujo nome se dá as antigas instalações da fábrica de cimento atualmente Votorantim é um importante Remanescente de mata atlântica, cuja posição geográfica entre o leito do Rio timbó e o oceano atlântico oferece diferentes cenários geológicos de suma importância para manutenção dos biomas locais.
Através do Mapa desenvolvido pelo Geógrafo Júlio César Silva (UFPE) a pedido do SalveMariaFarinha, vamos entender a importância de cada ambiente que integra o terreno.
Dunas de areia
Cobertas por vegetação nativa na porção Sudeste do terreno em seu limite com a comunidade Pé de porco, concentram desde ninhos de corujas buraqueiras a lagoas de água doce com presença de camarão e outras espécies de crustáceos e peixes.

Apicum
Na porção norte do terreno que sofre interferência devido a construção de uma estrada para escoamento de cargas do grupo Votorantim atualmente em desuso
Entre o limite com o Parque Natural Municipal do Acaraú, existe uma antiga estrada para escoamento de cargas que foi construída numa área apicum. Esse feito fez com que as águas das altas marés não atingissem mais esses locais causando interrupção em seu curso e processo natural depredando drasticamente esse bioma.

A convite do Salve Maria Farinha integrantes do Fórum Suape e da comunidade quilombola de Ilha de Mercês se somaram a um pescador local, a uma integrante da Associação de Marisqueiras e Pescadores de Maria Farinha e saíram em trilha por um trecho da APA Estuarina do Rio Timbó. para conhecer a situação do manguezal do Rio Timbó, no município de Paulista, que vem sofrendo graves intervenções e ameaças de destruições por parte de grandes empreendimentos instalados nas proximidades. No dia 06 de setembro de 2021, Ao longo da trilha, foi possível constatar a existência de uma longa estrada de terra construída em cima do mangue, que vem causando uma série de danos ao ecossistema e à pesca artesanal, além de outras intervenções danosas. A ideia da visita à área foi a de estabelecer um intercâmbio de informações e de experiências envolvendo a luta pelo Rio Tatuoca e a luta pelo Rio Timbó e de prestar apoio e solidariedade aos grupos que, como nós, estão na luta pelo rio livre e pelo mangue vivo.

Salgado
área é inundada conforme tábua de marés abriga diferentes tipos de crustáceos como “guaiamuns” e o “chama maré”
Bosques de Mangues
É um ecossistema típico da regiões definidos como zonas de transição entre o ambiente marinho e o terrestre. Um manguezal é formado por árvores e outras espécies arbustivas que são capazes de resistir ao fluxo marítimo – e, consequentemente, ao sal da água do mar.
Floresta Ombrófila aberta
O termo floresta ombrófila é usado para o ecossistema que antes era chamado de Floresta Pluvial. Os dois termos significam algo como amigo das chuvas, a diferença está na origem as palavras já que pluvial é uma palavra latina enquanto que ombrófila é uma palavra de origem grega. Um exemplo de floresta ombrófila é a Mata Atlântica.
Campos Abertos
Importante área de circulação de espécies animais existentes no local como raposas, guaxinins e capivaras.
Lavado
Área onde corre as águas pluviais modelando a estrutura do terreno

O terreno foi observado em um período de dois anos e foi constatado que durante o inverno partes do terreno ficam alagadas devido aos altos índices pluviométricos que ocorrem na Região de Maria farinha, podendo ocorrer precipitações com mais de 400 mm de acumulados de chuvas em períodos menores que uma semana. Devido a essas ocorrências o local caracteriza-se como importante manancial da região metropolitana do Recife. Entende-se por mananciais todas as fontes de água, superficiais ou subterrâneas, que podem ser usadas para o abastecimento público. Isso inclui, por exemplo, rios, lagos, represas e lençóis freáticos. Para cumprir sua função, um manancial precisa de cuidados especiais, garantidos nas chamadas leis estaduais de proteção a mananciais. o que não está ocorrendo no local.

A antiga mina da Poty teve sua atividade finalizada devido a aproximação da área urbana de suas instalações que impossibilitava novas detonações para exploração da Mina. Ficando abandonada por anos a mina foi inundada formando um enorme lago com mais de 35mts de profundidade.
Antiga mina de exploração inundada 1 (lago da poty)
Antiga mina de exploração inundada 2 (lago da poty)
Falésias do Rio timbó
Formam uma barreira natural regulando o curso do rio para sua foz evitando inundações em períodos de cheia.
GeoSítio
Dentro do terreno da fábrica está guardado um tesouro para geólogos e pesquisadores em fósseis. É o sítio geológico K-Pg Mina Poty, o primeiro a ser descrito na América do Sul e único no Brasil com indícios do meteoro que marcou o fim da era dos dinossauros no planeta Terra. Cientistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e de outros lugares do mundo chegaram a essa teoria após encontrarem concentrações elevadas do elemento químico irídio, substância bastante comum em meteoros por suportar elevadas temperaturas. O meteoro não caiu nessa região, caiu no Golfo do México, mas suas fragmentações chegaram em Maria Farinha, Paulista.
Essas espécies viviam em áreas próximas da costa há cerca de 62 milhões de anos. Em muitas rochas e sedimentos espalhados pelo local é possível identificar ostras, protozoários, lulas, caranguejos e outros fósseis de animais marinhos.
Além da importância geológica e da manutenção dos biomas locais o lugar é essencial para economia dos povos tradicionais existentes em seus entornos como no caso da vila de Cuieiras, Formada a partir de um antigo quilombo sua principal atividade econômica é relacionada ao rio timbó e utilização de seus recursos já amais de 300 a nos.
Moradora de cuieiras extraindo ostras as margens do rio timbó
E também para as comunidades do pé de porco e dos donos bares e restaurantes na parte frontal atlântica do terreno conhecida popularmente como portões de Maria farinha.
Ocupantes do local há quase 40 anos a comunidade dos portões de Maria farinha foi pioneira no turismo de praia em Paulista movimentando a economia local sendo a principal referência turística do estado na década de 1990. Que teve seu declínio em meados dos anos 2000 com a expansão econômica do litoral sul e também devido a falta de investimentos em infraestrutura para a qualificação do turismo.
Em meio as dificuldades após o derramamento de óleo nas praias e também ao fechamento dos estabelecimentos no período de PANDEMIA. Os trabalhadores da praia foram surpreendido no final de agosto de 2021 com o fechamento do local conhecido como portões de Maria farinha por parte da Votorantim. A empresa bloqueou toda área com tapumes impedindo o acesso ao local alegando interesses particulares para uso do lugar.
Os moradores e visitantes locais ficaram sem entender a apropriação de via pública por parte da Votorantim, pois no local que dá acesso a fábrica “havia uma rua que descia até a praia numa antiga vila de casas históricas, quando eles demoliram as casas trocaram com a gente o acesso da praia. Eles (Votorantim) Fecharam essa antiga rua e abriram os portões que assim permaneceu aberto por mais de trinta anos” afirma Dona Dira que foi a primeira a ocupar o local há 37 anos atrás.
Devido o prejuízo causado aos donos de bares, restaurantes e todos os trabalhadores da praia, a defensoria pública da União foi acionada para intermediar e acrescentar dados ao processo da ordem de despejo que existe no MPPE de anos anteriores, porém devido a pandemia o processo está parado.


Uma reunião foi marcada com o secretário de Meio ambiente da cidade de Paulista na busca de alternativas para as mais de 500 famílias afetadas com a ação arbitrária da empresa, pois o plano de gerenciamento costeiro define um acesso ao mar a cada 250mts e no local há um intervalo de mais de 2km sem acesso a praia isolando a comunidade e comercio em toda área dos portões.

Sem acessos em um perímetro de 2km o trecho composto por cerca de 73 estabelecimentos comerciais e residenciais ficou isolado sem receber visitantes, pois em horários de maré cheia não é possível acessar o local nem pela praia, interferindo no direito de ir e vir das pessoas.

Após meses de negociações infrutíferas com a fábrica Votorantim, Prefeitura da cidade de Paulista, DPU e MPPE os moradores realizaram protestos bloqueando a via na tentativa de chamar atenção para o caso.


Nem assim a Prefeitura de Paulista se pronunciou a favor dos moradores viabilizando o acesso do local que permanece fechado atendendo apenas os interesses da Votorantim. Devido a isso muitos comerciantes foram embora, tiveram seus estabelecimentos invadidos ou danificados acumulando mais prejuízos na sua conta com a prefeitura que não teve nenhuma iniciativa para amparar essas pessoas. Pelo contrário se uniu com o empresariado pra tirar suas responsabilidades com o povo.

O projeto visa ocupar o terreno com a construção de um complexo bairro privado voltados para os públicos A e B, o que representa uma grande ameaça para a natureza e para ampliação dos problemas sociais já existente na cidade.
Imagens do projeto apresentado pelo grupo Votorantim
Para o ambientalista Fernando Macedo, “É um absurdo que uma área na natureza seja um bairro do tipo: condomínio fechado. Não existe árvore e natureza privada, tudo está interligado em nosso planeta”
Uma obra dessa magnitude sem consulta pública e participação da sociedade na discussão do projeto é mais uma manobra de privatização de território para uso privilegiado. Falta transparência na apresentação do projeto assim como as licenças geradas que aprovem o empreendimento. O prefeito Yves Ribeiro tem sinalizado positivamente alegando que o empreendimento vai trazer desenvolvimento para a cidade. Porém não é isso que tem acontecido com outras regiões da cidade, onde outros grandes empreendimentos imobiliários tem trazido consigo uma série de problemas socioambientais.
Para especialistas do meio ambiente transformar essa área numa zona habitada é negligenciar sua importância para a ciência e regulação natural de nosso território. Em pleno século das mudanças climáticas e aumento do nível dos oceanos seguir com um projeto desses é pura insanidade. Paulista-PE sequer tem um plano de ação para enfrentamento das mudanças climáticas em seu território que já vem sendo bastante afetado com erosões costeiras, deslizamentos de encostas e alagamentos devido a falta de planejamento urbano. E a implantação desse projeto vai aumentar ainda mais esses problemas criando claramente um processo de gentrificação em seu território colaborando com o racismo ambiental.